Spartacus era um gladiador trácio que liderou uma revolta de escravos com um exército de dezenas de milhares. Ele derrotou as forças romanas mais de meia dúzia de vezes, marchando seu povo para cima e para baixo na península italiana até ser morto em uma batalha em abril de 71 aC

Um personagem favorito na ficção popular, ele não foi crucificado e não houve “Eu sou Spartacus!” momento como visto no famoso filme de Stanley Kubrick de 1960. Além disso, embora Spartacus fosse uma pessoa real que inspirou revolucionários e cineastas, os estudiosos não têm uma quantidade abundante de informações sobre ele. Relatos de apenas cerca de uma dúzia de escritores antigos sobrevivem até hoje , e nenhum dos relatórios sobreviventes foi escrito por Spartacus ou um de seus apoiadores.

Este é Spartacus

De acordo com as fontes sobreviventes, Spartacus era da Trácia, uma área no sudeste da Europa que os romanos muitas vezes tentaram subjugar durante o primeiro século aC. Ele parece ter servido em uma unidade auxiliar romana por um tempo, desertou e se tornou um bandido ou insurgente contra os romanos. Em algum momento, ele foi capturado e levado para Roma e vendida como escrava a um homem conhecido às vezes como “Vatia”. Este homem era dono de uma escola de gladiadores em Cápua, cerca de 120 milhas (193 quilômetros) a sudeste de Roma. Enquanto estava na escola, Spartacus ajudou a organizar uma fuga que fez com que mais de 70 gladiadores escapassem armados com facas, cutelos e outras armas improvisadas que conseguiram na cozinha.

Uma das pessoas com quem Spartacus escapou foi sua esposa , uma mulher trácia cujo nome se perdeu na história. O escritor Plutarco, que viveu no século II d.C., escreveu que ela “era uma profetisa possuída por frenesi extático que fazia parte da adoração ao deus Dioniso”. Depois que Spartacus acordou com uma cobra enrolada em sua cabeça “ela declarou que este era o sinal de um poder tremendo e temível que o levaria a um fim infeliz” (tradução de Brent Shaw, do livro “Spartacus and the Slave Wars: Brief History with Documents, “Bedford / St.Martins, 2001).

Primeira luta

Spartacus e seu pequeno bando de fugitivos adquiriram armas de gladiador em uma carroça que passava e seguiram para Monte Vesúvio. Isso foi mais de um século antes de entrar em erupção e, no tempo de Spartacus, a montanha estava realmente coberta de vinhas e tinha terras férteis nas proximidades.

No caminho, Spartacus e seus co-líderes, Crixus e Oenomaus, invadiram em busca de suprimentos e escravos recrutados no campo. Roma não respondeu à força crescente de Spartacus seriamente. Na época de sua fuga, os militares da República estavam lutando na Espanha, sudeste da Europa e Creta. Além disso, um grupo de escravos fugitivos não era visto como um desafio sério aos soldados romanos.

Os romanos despacharam um pretor chamado Gaius Claudius Glaber para formar um exército para esmagar os escravos. Este homem, e outra pessoa chamada Publius Valerius, a quem eles despacharam mais tarde, “não comandavam o exército de legiões de cidadãos regulares, mas sim quaisquer forças que pudessem recrutar às pressas no local”, escreveu Appian, um escritor que também viveu no segundo século DC (tradução de Brent Shaw).

O exército ad-hoc de Glaber nem tentou atacar Spartacus. Em vez disso, eles bloquearam a rota principal até o Vesúvio, montaram acampamento e tentaram matá-lo de fome. Spartacus tomou a iniciativa, fazendo com que seus escravos recém-libertados construíssem cordas com vinhas selvagens para que pudessem descer a encosta da montanha até um local que os romanos haviam negligenciado de defender. Os romanos, ainda no acampamento, nunca os viram chegar. Os “escravos puderam para cercá-los e chocar os romanos com um ataque surpresa. Quando os romanos fugiram, os escravos tomaram seu acampamento ”, escreveu Plutarco. Este sucesso resultou em novos recrutas migrando para a força de Spartacus. “Neste ponto, muitos dos pastores e pastores das regiões vizinhas – homens de corpo duro e pés ágeis – vieram se juntar aos escravos.”

O crescimento da força de Spartacus foi auxiliado por outros fatores. Ao longo de sua rebelião, seu exército passou grande parte do tempo em áreas rurais e pequenas cidades, lugares mal defendidos, mas com abundância de escravos. Além disso, de acordo com fontes antigas , Spartacus insistiu em dividir igualmente os despojos, algo que tornava o recrutamento ainda mais fácil.

Com o tempo, ele até conseguiu fazer com que não-escravos se juntassem à sua rebelião. “Eles foram capazes de construir um formidável força em parte porque muitos libertos e outros plebeus livres juntaram-se às suas fileiras junto com milhares de escravos fugitivos ”, escreve o historiador Michael Parenti em um ensaio publicado no livro” Spartacus: Film and History “(Blackwell, 2006).

Oposição séria

Spartacus continuou a emboscar e derrotar unidades romanas enquanto libertava escravos no campo e recolhendo suprimentos.De volta a Roma, o senado ficou impaciente e enviou um grande exército liderado pelos cônsules Lucius Gellius Publicola e Gnaeus Cornelius Lentulus Clodianus. Cada homem pode ter comandado 10.000 soldados.

Na primavera de 72 aC, Spartacus pode ter tido 40.000 soldados, alguns dos quais permaneceram no sul da Itália com seu co-líder Crixus, enquanto o restante avançou em direção aos Alpes sob o comando de Spartacus.

Isso não funcionou bem para os rebeldes. A força romana sob o comando de Gellius alcançou Crixus, matando o líder junto com muitos de seus rebeldes. Gellius então passou a avançar sobre Spartacus pelo sul enquanto Lentulus, que aparentemente estava à frente de Spartacus, dirigia do norte. Spartacus estava preso entre dois exércitos provavelmente equipados com armas e armaduras melhores do que ele.

Mas uma coisa com que nenhum dos comandantes parecia ter contado era que Spartacus havia formado uma força de cavalaria considerável nos meses anteriores. Os trácios eram conhecidos por serem bons cavaleiros, capazes de domar até cavalos selvagens. “Spartacus de repente avançou contra eles e os engajou na batalha. Ele derrotou os legados de Lentulus e capturou todos os seus suprimentos”, escreve Plutarco. Gellius foi então derrotado por Spartacus ou forçado a recuar. Spartacus não apenas escapou da armadilha, mas havia atacado o exército romano, permitindo que suas tropas marchassem para os Alpes.

Um mistério alpino

Depois de derrotar outra força romana, esta liderada por um governador romano chamado Gaius Cassius Longinus, a força de Spartacus agora estava livre para escalar os Alpes e ir para a Gália, Trácia ou outras áreas não controladas por Roma.

No entanto, por razões que se perderam na história, Spartacus optou por não fazer isso, em vez disso, voltou sua força e se dirigiu de volta à Itália. Por que ele fez isso é um mistério.

“Muitas teorias foram propostas, mas a melhor explicação já foi sugerida no fontes antigas. Os próprios homens de Spartacus provavelmente o vetaram ”, escreve Barry Strauss, um professor de Clássicos da Universidade Cornell, em seu livro The Spartacus War (Simon & Schuster, 2009). “No passado, eles nunca quiseram deixar a Itália; agora o sucesso pode ter subido a suas cabeças e despertado visões de Roma em chamas.”

Ele observa que outros fatores também podem estar envolvidos. Spartacus pode recebeu notícias de avanços romanos na Trácia que o fizeram duvidar que ele e os outros trácios em seu exército pudessem voltar para casa em segurança.

“A gota d’água pode ter sido simplesmente a visão dos Alpes. Como qualquer pessoa que já olhou da planície em direção à parede de rocha dos Alpes italianos sabe, as montanhas são avassaladoras ”, escreve Strauss.

Quaisquer que tenham sido os motivos, Spartacus conduziu seu exército de volta ao sul, pela Itália, vencendo a resistência ao longo do caminho, até chegar ao estreito de Messina, na esperança de cruzar para a Sicília, uma ilha agrícola e escravos esperando para serem libertados.

Traídos por piratas

Enquanto o Estreito de Messina é pequeno, tendo apenas duas milhas (3,2 quilômetros) de largura em alguns pontos, Spartacus teve vários problemas para cruzá-lo. Ele havia chegado ao estreito no inverno de 72-71 aC, época em que o clima era mais frio. Além disso, o governador romano da Sicília, Gaius Verres, havia fortificado alguns dos melhores pontos de desembarque.

Spartacus precisava de duas coisas, bons barcos e bons marinheiros, para conseguir desembarcar um grupo avançado de suas tropas através do estreito. Ele recorreu a um grupo de “piratas cilicianos” (como Plutarco os chamou) que frequentavam a área e, como Strauss observa, estavam equipados com barcos rápidos e conhecimento de navegação, coisas de que Spartacus precisava para fazer a travessia com sucesso.

Os piratas, entretanto, tinham outros planos. “Embora os cilicianos tenham feito um acordo com Spartacus e aceitado seus presentes, eles o enganaram e partiram navegando”, escreveu Plutarco. Se os piratas foram subornados pelos romanos ou simplesmente não queriam se envolver, não se sabe.

O intransigente Spartacus ordenou que suas tropas montassem seus próprios barcos e, enquanto eles conseguiam construir um muitos deles, sua tentativa de cruzar o estreito falhou, deixando suas tropas presas no continente italiano. Isso deixou Spartacus sem escolha a não ser levar sua força para o norte para enfrentar um líder romano mais implacável do que qualquer outro que havia encontrado antes.

Crasso

Quando Spartacus alcançou o estreito, um novo líder chamado Marcus Licinius Crassus assumiu o comando das forças romanas. Strauss observa que ele era um indivíduo rico, capaz de levantar um grande exército e pagá-los, pelo menos em parte, do próprio bolso.

Em seus negócios, Plutarco disse que tinha um esquema em que ” ele comprou as propriedades em chamas e os edifícios nas vizinhanças daqueles em chamas, pois os proprietários os entregariam por uma pequena quantia de dinheiro por medo e incerteza ”. (Tradução de Roman Social History: A Sourcebook, Routledge, 2007).

Em sua vida militar, ele foi ainda mais implacável. Entre suas forças estavam os restos das legiões pertencentes a Gellius e Lentulus que haviam sido derrotadas anteriormente por Spartacus. Como consequência, “Crasso selecionou cada décimo homem das legiões consulares por sorteio e executou-o”, escreveu Apiano. Ele também reviveu uma prática chamada “dizimação”, em que unidades que fugiam do inimigo tiravam a sorte e tinham um número aleatório de soldados mortos por espancamentos ou apedrejados até a morte.

Não é preciso dizer que a disciplina se tornou mais rígida sob Crasso. Ainda assim, sabendo que muitos dos melhores soldados de Roma estavam fora da Itália, ele procedeu com cuidado ao mover-se contra Spartacus. Em vez de tentar lutar abertamente contra Spartacus no sul da Itália, ele construiu um sistema de fortificações centralizado na cordilheira Melia em um esforço para prender Spartacus e matar de fome suas tropas.

Spartacus respondeu à situação oferecendo a Crasso um tratado de paz que Crasso rapidamente rejeitou. Talvez ver seus próprios soldados começando a vacilar Spartacus tenha fortalecido sua determinação ao crucificar um soldado romano onde todos podiam ver. Serviu “como uma demonstração visual para seus próprios homens do que aconteceria a eles se não vencessem”, escreveu Apiano. Spartacus finalmente conseguiu romper a armadilha de Crasso preenchendo uma de suas trincheiras (supostamente com corpos humanos) e usando o seu cavalaria para perfurar.

Enquanto Spartacus escapava da armadilha de Crasso, ele enfrentou graves consequências. Escritores antigos dizem que ele perdeu milhares de soldados na fuga. Além disso, surgiu uma divisão no acampamento rebelde. Um grupo dissidente liderado por Castus e Gannicus, que incluíam muitas tropas celtas e alemãs, se separaram de Spartacus e partiram por conta própria. Além disso, a força de Crasso ainda estava praticamente intacta, enquanto outra força, liderada por Marcus Terentius Varro Lucullus, estava prestes a pousar em Brundisium e um terceiro A força, liderada por Pompeu, estava a caminho da Espanha para a Itália.

A força de Spartacus estava agora dividida e cada vez mais cercada e o cenário estava armado para a batalha final.

O fim do Spartacus

No spri de 71 aC as coisas desmoronaram para Spartacus. Castus e Gannicus foram derrotados por Crasso, provavelmente em algum momento antes de abril, na Batalha de Cantenna.

Spartacus estava agora mais isolado. Depois da batalha em Cantenna, ele recebeu a notícia de que a força de Lúculo havia desembarcado em Brundisium, destruindo as esperanças que os rebeldes tinham de sair da Itália usando aquele porto.

O que aconteceu a seguir é difícil de explicar. Spartacus poderia ter tentado outro porto ou outra parte da Itália. Sua força não estava completamente presa e ele provavelmente tinha pelo menos 30.000 soldados capazes de lutar.

Mas, por motivos que não sabemos, ele decidiu se virar e atacar Crasso. Se Spartacus realmente queria isso, ou se seus homens decidiram por ele, não se sabe.

A batalha final ocorreu em abril de 71 aC. Strauss diz que não podemos ter certeza de onde foi travada, mas provavelmente foi em algum lugar no vale do Alto Silarus. A estratégia de Spartacus parece ter sido dupla: use sua cavalaria para atacar os arqueiros e lançadores de mísseis de Crasso, enquanto Spartacus lideraria sua infantaria em uma tentativa de matar o próprio Crasso, na esperança de quebrar seu exército.

Crasso construiu trincheiras para bloquear a cavalaria de Spartacus, o que gerou uma confusão violenta quando os homens de Spartacus pularam e tentaram impedir a construção. Eventualmente, Spartacus alinhou seus homens para a batalha e Crasso os seus.

Plutarco escreveu que, pouco antes da batalha, Spartacus desceu do cavalo, matou a besta e disse a seus homens que “se ele vencesse a batalha, ele teria muitos cavalos excelentes que pertenceriam ao inimigo, mas se ele perdesse, não precisaria de um cavalo ”. A batalha correu mal. A cavalaria de Spartacus aparentemente não conseguiu alcançar os atiradores e arqueiros de mísseis de Crasso. O intrépido Spartacus, à frente de suas tropas, e a pé, liderou um ataque dirigido ao próprio Crasso.

Dizem que Spartacus ter abatido dois centuriões nesta tentativa final, porém foi em vão. Existem vários relatos sobre a morte de Spartacus, mas todos eles terminam com ele sendo cercado e morto. Com sua morte, seu exército se desfez e Crasso e as outras forças romanas caçaram os rebeldes restantes.

O corpo de Spartacus aparentemente nunca foi identificado. Strauss aponta que ele matou seu cavalo antes da batalha e provavelmente não embelezou sua armadura. “A luta final de Spartacus pode ter deixado apenas o corpo gravemente desfigurado de um soldado vestido com uma armadura comum. ”Ele provavelmente foi enterrado em uma vala comum com o resto de suas tropas. Mesmo que os arqueólogos o encontrem algum dia, provavelmente não conseguirão distinguir o famoso comandante de suas tropas.

Enquanto a revolta de Spartacus acabou sendo esmagada sua memória vive, mais do que os romanos que lutaram ou se opuseram a ele.“Quem, hoje, se lembra de Crasso? Pompeu? Até Cícero não é tão bem lembrado”, escreve Strauss. Por outro lado, “todo mundo já ouviu falar de Spartacus.”

– Owen Jarus