Uma das histórias centrais da Bíblia, muitas pessoas acreditam, é que existe um céu e uma terra e que as almas humanas foram exiladas do céu e estão cumprindo pena aqui na terra até que possam retornar. Na verdade, para a maioria dos cristãos modernos, a ideia de “ir para o céu quando morrer” não é simplesmente uma crença entre outras, mas aquela que parece dar um ponto a tudo.
Mas as pessoas que acreditavam naquele tipo de “céu” quando o Novo Testamento foi escrito não eram os primeiros cristãos. Eles eram os “Platônicos intermediários” – pessoas como Plutarco (um contemporâneo mais jovem de São Paulo que foi filósofo, biógrafo, ensaísta e sacerdote pagão em Delfos). Para entender o que os primeiros seguidores de Jesus acreditavam sobre o que acontece após a morte, precisamos para ler o Novo Testamento em seu próprio mundo – o mundo da esperança judaica, do imperialismo romano e do pensamento grego.
Os seguidores do movimento de Jesus que cresceram naquele ambiente complexo viu “céu” e “terra” – o espaço de Deus e o nosso, se preferir – como as metades gêmeas da boa criação de Deus. Em vez de resgatar as pessoas da última para alcançar a primeira, o Deus criador finalmente traria o céu e a terra juntos em um grande ato de nova criação, completando o propósito criativo original ao curar todo o cosmos de seus antigos males. Eles acreditavam que Deus então ressuscitaria seu povo dos mortos, para compartilhar – e, de fato, compartilhar seus mordomia sobre – esta criação resgatada e renovada. d eles acreditaram em tudo isso por causa de Jesus.
Eles acreditavam que com a ressurreição de Jesus esta nova criação já havia sido lançada. Jesus corporificou em si mesmo a fusão perfeita de “céu” e “terra”. Em Jesus, portanto, a antiga esperança judaica finalmente se realizou. O objetivo não era “irmos para o céu”, mas para que a vida celestial chegasse à terra. Jesus ensinou seus seguidores a orar: “Venha o teu reino na terra como no céu”. Já no século III, alguns professores cristãos tentaram misturar isso com tipos da crença platônica, gerando a ideia de “deixar a terra e ir para o céu”, que se tornou dominante na Idade Média. Mas os primeiros seguidores de Jesus nunca foram essa rota.
As escrituras de Israel há muito prometiam que Deus voltaria em pessoa para morar com seu povo para sempre. Os primeiros cristãos aprenderam: “O Verbo se fez carne”, declara João, “e habitou em nosso meio. ” A palavra para “habitou” significa, literalmente, “tabernaculou”, “armou sua tenda” – aludindo ao deserto “tabernáculo” no tempo de Moisés e ao Templo construído por Salomão. Estudando o Novo Testamento historicamente, em seu próprio mundo ( em oposição a esmagá-lo e cortá-lo para se ajustar às nossas próprias expectativas), mostra que os primeiros cristãos não acreditavam que iriam “para o céu quando morressem”, mas que, em Jesus, Deus tinha vindo morar com eles.
Essa foi a lente através da qual eles viram a esperança do mundo. O livro do Apocalipse termina, não com as almas subindo ao céu, mas com a Nova Jerusalém descendo à terra, de modo que “a morada de Deus é com os humanos”. Toda a criação, declara São Paulo, será libertada de sua escravidão à corrupção, para desfrutar da liberdade pretendida por Deus. Deus então será “tudo em todos”. É difícil para nós, modernos, entender isso: tantos hinos, orações e sermões ainda falam de nós “indo para o céu”. Mas faz sentido histórico e lança luz sobre todo o resto.
Qual era então a esperança pessoal para os seguidores de Jesus? Em última análise, a ressurreição – um corpo físico novo e imortal no corpo de Deus nova criação. Mas, após a morte e antes dessa realidade final, um período de descanso feliz. “Hoje”, diz Jesus ao bandido ao lado dele, “você estará comigo no Paraíso.” “Meu desejo”, diz São Paulo, enfrentando uma possível execução, “é partir e estar com o Messias, o que é muito melhor”. “Na casa de meu pai”, assegurou Jesus a seus seguidores, “há muitas salas de espera.” Estes não são o destino final. Eles são o local de descanso temporário, à frente da nova criação definitiva.
O estudo histórico – ler o Novo Testamento em seu próprio mundo – traz, portanto, surpresas que podem ter um impacto sobre o cristianismo moderno também. Talvez o mais importante seja uma maneira nova, ou melhor, muito antiga, de ver a missão cristã. Se o único objetivo é salvar as almas dos destroços do mundo, para que possam partir e ir para o céu, por que incomodar-se em tornar este mundo um lugar melhor? Mas se Deus vai fazer por toda a criação o que fez por Jesus em sua ressurreição – para trazê-los de volta, aqui na terra – então aqueles que foram resgatados pelo evangelho são chamados a desempenhe um papel, agora, na renovação antecipada do mundo.
Deus vai consertar o mundo inteiro, diz essa cosmovisão, e em “justificação” ele coloca as pessoas certas, pelo evangelho, para fazer parte de seu projeto de consertar o mundo. A missão cristã inclui trazer sinais reais de avanço da nova criação no mundo presente: na cura, na justiça, na beleza, na celebração da nova criação e lamentando a dor contínua da velha.
As escrituras sempre prometeram isso quando a vida de o céu veio à terra pela obra do Messias de Israel, os fracos e os vulneráveis receberiam cuidados e proteção especiais, e o deserto floresceria como a rosa. O cuidado com os pobres e o planeta torna-se então central, não periférico, para aqueles que pretendem viver na fé e na esperança, pelo Espírito, entre a ressurreição de Jesus e a vindoura renovação de todas as coisas.
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